Do alto de seus 71 anos, com a voz de contralto ainda em ótima forma, Leny Andrade joga sua luz sobre onze composições de Ivan Lins e Vítor Martins em disco, Iluminados, que reflete o período áureo da produção do gênero de música nascido na era dos festivais com o rótulo de MPB.

Projetado em 1970, quando já se vislumbrava o desgaste e a finitude dessa era, o cantor e compositor carioca Ivan Lins alcançou real relevância nesse universo da MPB quando, a partir de 1974, firmou com o letrista paulista Vítor Martins uma parceria que marcou época nos anos 1970 e 1980 - combatendo com música e metáforas as forças de repressão daquela época - até perder progressivamente o fôlego (em quantidade, não em qualidade) ao longo da década de 1990.

Sob produção de João Samuel, Leny ilumina esse cancioneiro perene - com ênfase na produção lançada pela dupla entre 1974 e 1987 - com arranjos do pianista Fernando Merlino. Iluminados é CD fiel à estética da MPB e da música do próprio Ivan Lins, cujo toque percussivo do piano é evocado por Merlino já na primeira música - o samba Antes que seja tarde (1979) - deste disco que vai seduzir admiradores da MPB.

É com livre trânsito entre a MPB e o jazz que Leny dá voz a músicas como Iluminados (1987), Velas içadas (1979) e Guarde nos olhos (1978), sendo esta uma balada embebida em lirismo que exemplifica a perfeita sintonia entre música e letra na obra de Ivan com Vítor. Contudo, Iluminados tende sobretudo para a MPB. As músicas estão inteiramente inseridas nesse universo tradicional da MPB. A única faixa de tom mais jazzístico, com longa passagem instrumental em que Leny exercita sua habilidade nos scats, é Daquilo que eu sei (1981).

Em essência, Iluminados é disco em que predominam as baladas formatadas em atmosfera clássica. E, nesse gênero, Leny também dá banho - como atesta sua arrebatadora interpretação da apaixonada balada Vieste (1987), pontuada pelo piano límpido e preciso de Merlino. Aliás, Leny é cantora que faz a diferença porque sabe aliar emoção à sua técnica esplendorosa, ciente de que sentimento é artigo essencial no canto de canções como Anjo de mim (1995), um dos últimos sucessos dessa iluminada parceria que pediu passagem na música brasileira com Abre alas (1974), faixa em que Merlino evoca na parte instrumental tanto o estilo de Ivan quanto as orquestrações feitas pelo maestro Wagner Tiso para formatar o cancioneiro de Milton Nascimento nos anos 1970. De todo modo, é preciso ressaltar que, mesmo na interpretação sedutora de Leny, Mãos de afeto (1976) - canção letrada por Vítor sob ótica feminina - continua dando a impressão de que parece talhada sob medida para Nana Caymmi, intérprete original da canção.

Em seleção que concentra sucessos, Cantor da noite sobressai no repertório de Iluminados por soar como inédita, embora essa canção densa e rebuscada tenha sido lançada por Leny em álbum de 1984 e regravada pela cantora dez anos depois em disco feito para o mercado norte-americano, Maiden voyage (Chesky Records, 1994). Veículo em Iluminados para interpretação encorpada de Leny, Cantor da noite merece sair da escuridão.

No fim, tudo acaba no samba Roda baiana (1981), número presente há décadas nos shows da cantora e revivido com o suingue e os scats dessa artista que continua dando aula de canto. Abram alas, pois Leny Andrade está jogando sua luz forte sobre Ivan Lins e Vítor Martins em CD - ainda sem edição comercial - que merece distribuição eficaz no mercado fonográfico do Brasil.

CD Leny Andrade - Iluminados - Canta Ivan Lins & Vitor Martins

R$199,90
Esgotado
CD Leny Andrade - Iluminados - Canta Ivan Lins & Vitor Martins R$199,90
Compra protegida
Seus dados cuidados durante toda a compra.
Trocas e devoluções
Se não gostar, você pode trocar ou devolver.

Do alto de seus 71 anos, com a voz de contralto ainda em ótima forma, Leny Andrade joga sua luz sobre onze composições de Ivan Lins e Vítor Martins em disco, Iluminados, que reflete o período áureo da produção do gênero de música nascido na era dos festivais com o rótulo de MPB.

Projetado em 1970, quando já se vislumbrava o desgaste e a finitude dessa era, o cantor e compositor carioca Ivan Lins alcançou real relevância nesse universo da MPB quando, a partir de 1974, firmou com o letrista paulista Vítor Martins uma parceria que marcou época nos anos 1970 e 1980 - combatendo com música e metáforas as forças de repressão daquela época - até perder progressivamente o fôlego (em quantidade, não em qualidade) ao longo da década de 1990.

Sob produção de João Samuel, Leny ilumina esse cancioneiro perene - com ênfase na produção lançada pela dupla entre 1974 e 1987 - com arranjos do pianista Fernando Merlino. Iluminados é CD fiel à estética da MPB e da música do próprio Ivan Lins, cujo toque percussivo do piano é evocado por Merlino já na primeira música - o samba Antes que seja tarde (1979) - deste disco que vai seduzir admiradores da MPB.

É com livre trânsito entre a MPB e o jazz que Leny dá voz a músicas como Iluminados (1987), Velas içadas (1979) e Guarde nos olhos (1978), sendo esta uma balada embebida em lirismo que exemplifica a perfeita sintonia entre música e letra na obra de Ivan com Vítor. Contudo, Iluminados tende sobretudo para a MPB. As músicas estão inteiramente inseridas nesse universo tradicional da MPB. A única faixa de tom mais jazzístico, com longa passagem instrumental em que Leny exercita sua habilidade nos scats, é Daquilo que eu sei (1981).

Em essência, Iluminados é disco em que predominam as baladas formatadas em atmosfera clássica. E, nesse gênero, Leny também dá banho - como atesta sua arrebatadora interpretação da apaixonada balada Vieste (1987), pontuada pelo piano límpido e preciso de Merlino. Aliás, Leny é cantora que faz a diferença porque sabe aliar emoção à sua técnica esplendorosa, ciente de que sentimento é artigo essencial no canto de canções como Anjo de mim (1995), um dos últimos sucessos dessa iluminada parceria que pediu passagem na música brasileira com Abre alas (1974), faixa em que Merlino evoca na parte instrumental tanto o estilo de Ivan quanto as orquestrações feitas pelo maestro Wagner Tiso para formatar o cancioneiro de Milton Nascimento nos anos 1970. De todo modo, é preciso ressaltar que, mesmo na interpretação sedutora de Leny, Mãos de afeto (1976) - canção letrada por Vítor sob ótica feminina - continua dando a impressão de que parece talhada sob medida para Nana Caymmi, intérprete original da canção.

Em seleção que concentra sucessos, Cantor da noite sobressai no repertório de Iluminados por soar como inédita, embora essa canção densa e rebuscada tenha sido lançada por Leny em álbum de 1984 e regravada pela cantora dez anos depois em disco feito para o mercado norte-americano, Maiden voyage (Chesky Records, 1994). Veículo em Iluminados para interpretação encorpada de Leny, Cantor da noite merece sair da escuridão.

No fim, tudo acaba no samba Roda baiana (1981), número presente há décadas nos shows da cantora e revivido com o suingue e os scats dessa artista que continua dando aula de canto. Abram alas, pois Leny Andrade está jogando sua luz forte sobre Ivan Lins e Vítor Martins em CD - ainda sem edição comercial - que merece distribuição eficaz no mercado fonográfico do Brasil.