CD Eliana Pittman - Nem Lágrima Nem Dor
Quando Eliana Pittman decide abraçar o repertório de Jorge Aragão, o que surge não é um disco de samba no sentido estrito. Sob a produção cuidadosa e criativa de Rodrigo Campos e metais de Thiago França, “Nem lágrima, nem dor” se torna uma releitura sofisticada e ousada, onde a voz vibrante e camaleônica de Eliana encontra arranjos que reimaginam clássicos com frescor e emoção. É Jorge Aragão, mas é também Eliana Pittman, um encontro de titãs, e Rodrigo Campos traduz essa conexão com um toque que é ao mesmo tempo íntimo e expansivo.
Campos, conhecido por sua habilidade em criar arranjos que transcendem gêneros, aqui constrói um universo sonoro único, que flerta com o jazz, a bossa, o soul e a música popular brasileira. Ele honra o legado de Aragão enquanto oferece novas camadas para cada composição, como se cada faixa ganhasse uma nova alma.
A jornada começa com “Lucidez” que ganha um arranjo pontuado por metais elegantes, enquanto Eliana transforma o lamento da canção em algo quase cinematográfico. Seguindo essa atmosfera, em “Eu e Você Sempre”, a simplicidade do violão aliada ao sax cria um ambiente íntimo e envolvente, destacando a doçura de sua voz.
“Novo Endereço” é conduzida por percussões e arranjos delicados, apresentando-se como uma confissão introspectiva que traduz intimidade e universalidade. Essa intensidade continua em “Loucuras de Uma Paixão”, onde o arranjo cinematográfico, com destaque para o sax tenor, amplifica o drama da música, revelando suspiros apaixonados em cada nota.
Em “Tendência”, Rodrigo Campos imprime uma leveza à melodia, ressignificando o samba com delicadeza, enquanto a interpretação de Eliana ressalta a melancolia subjacente. Já “Minta Meu Sonho” explora uma estética contemporânea, onde sintetizadores e batidas eletrônicas criam um contraste intrigante com a entrega vocal de Eliana, que soa moderna e autêntica.
“Além da Razão” traz uma atmosfera luminosa ao introduzir synth bass e guitarra que acompanham a voz precisa e emotiva de Eliana. Em “Do Fundo do Nosso Quintal”, a nostalgia e o calor que emana das recordações de toda roda de samba transformam a canção em uma celebração carismática e envolvente marcada pelo cavaquinho e a voz de Rodrigo Campos no coro.
Por outro lado, “Papel de Pão” é marcada por densidade e programações sutis que dialogam com uma linha de baixo marcante, criando uma narrativa quase falada que reflete a força da canção. Com essa faixa, Eliana imprime todo o peso de sua interpretação, encerrando a obra com uma força dramática que reverbera além da última nota.
O álbum, longe de ser uma simples homenagem, transforma cada faixa em uma nova experiência, onde a genialidade de Jorge Aragão encontra a criatividade de Rodrigo Campos e a alma de Eliana Pittman. Mais do que isso, “Nem lágrima, nem dor” reafirma Eliana como uma artista em constante reinvenção, conectando-se com as novas gerações sem abrir mão da sofisticação que sempre marcou sua trajetória. Um trabalho imperdível para os amantes da música e uma celebração da longevidade criativa de uma artista única.
Faixas:
1 - Lucidez (Jorge Aragão/Cleber Augusto)
2 - Eu e você sempre (Jorge Aragão/Flávio Cardoso)
3 - Novo endereço (Jorge Aragão/Sombrinha)
4 - Loucuras de uma paixão (Alcino Ferreira/Mauro Diniz)
5 - Tendência (Jorge Aragão/Yvonne Lara)
6 - Minta meu sonho (Jorge Aragão)
7 - Além da razão (Sombrinha, Sombra e Luiz Carlos da Vila)
8 - Do fundo do nosso quintal (Jorge Aragão/Alberto Souza)
9 - Papel de pão (Christiano Fagundes)
Ficha técnica:
Produzido por Rodrigo Campos
Produção executiva: Thiago Marques Luiz
Gravações, mixagem e masterização: Fred Pacheco
Arranjos, violão, guitarras, teclados, synth bass, percussões, programações, cavaquinho e coro: Rodrigo Campos
Saxofones alto, tenor, barítono, soprano, flautas e arranjos de sopros: Thiago França
Baixo elétrico: Marcelo Cabral
Projeto gráfico: Leandro Arraes
Direção de arte da capa: Paulo Henrique de Moura
Fotografia: Samuca Kim
Make e hair: André Florindo
Figurino: Apartamento 03
Diretor artístico Companhia de Discos do Brasil: Paulo Henrique de Moura
Diretor artístico Nova Estação: Thiago Marques Luiz